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SEJAM BEM VINDOS AOS ENSAIOS DO COTIDIANO

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bem vindo à realidade,

Por Rafael Guimarães e Janaína Sorna

Você já se sentiu preso dentro de algum lugar que te incomodasse? Pois bem, é assim que me sinto ultimamente... Não me pergunte o motivo, pois sinceramente não sei... Minha única certeza é que não importa onde eu esteja, continuarei assim!

Às vezes penso que estou preso dentro de mim (e eu sei que isso é estranho, mas independe da minha vontade), deito na cama, respiro e vejo meu peito e minha mente dobrarem de tamanho, gerando angústia, pensamentos ruins e me fazendo sentir o pior ser do planeta Terra.
Rezo, peço a Deus que tire isso de mim, mas nada acontece. Me faltaria fé? Ou me sobraria pessimismo?
Nada está como eu gostaria que estivesse. Minhas roupas não me agradam, minha casa não me agrada, o espelho não reflete o que me agradaria, a comida não me agrada, minha família não me agrada. A única coisa que me deixa aliviado é dirigir.
Sabe aquela sensação bacana de sentir o vento no seu rosto, de ver que tudo que é banal ficou para trás e o que realmente importa é continuar na longa estrada para chegar a lugar nenhum, com sina incerta? Ô vontade de estar num lugar desconhecido, andando por aí, sem rumo, sem destino!
Agora – por exemplo - eu queria que alguém me explicasse algumas coisas, me explicasse a razão de me sentir assim, tão vazio e tão cheio. Por que nunca temos as respostas para nada? Por que nos sentimos frágeis quando estamos sós? Como eu queria ter a atenção de alguém especial mais uma vez, dormir abraçado, chupar bala de banana, tomar banho de chuva, chorar de rir, sentir cheiro de grama recém cortada, correr descalço pela casa da avó, ganhar um abraço apertado (acompanhado de um “saudade de você!”), comer manga lambuzando a cara e ter o prazer de possuir trilha sonora em cada momento de minha vida.
Por que quando notamos que tudo que acreditamos começa a desmoronar é que nos vemos obrigados a ficar nostálgicos inconscientemente? Porque nos lembramos de bons momentos que passamos em nossas vidas querendo que eles se tornem eternos? Seria uma doce ilusão? Um grito de desespero que nos relembra que “o pra sempre, sempre acaba” e a conseqüência disso é o sentimento de impotência?
Nunca estamos satisfeitos com o agora. Queremos sempre o passado. E não importa se somos os mais cobiçados, os mais atraentes, os mais inteligentes, os mais amigos, os mais queridos. Em algum momento passamos por esta maré de nostalgia dolorosa e começamos a perceber que não somos absolutamente NADA para nós mesmos.
Um dia acordamos e percebemos que estamos presos dentro de um corpo vagando pelo espaço, inerte, sem vida, sem sentido. Um corpo que trabalha, estuda, se forma, namora, se casa, tem filhos, mas que não sabe o pra quê, ou o porquê dessa rotina tola. E olhamos para trás, percebendo que pouca coisa teve um significado especial nessa vida.
Pense... Quantas vezes você arrumou tempo pra dizer pra alguém que você a ama, num dia de cão, depois de enfrentar a fúria do seu chefe e de um banco que insiste em alegar que você está negativo?
Quantas vezes você já magoou alguém com o seu jeito de falar? Quantos sorrisos sinceros você conseguiu? Quantos beijos apaixonados você ganhou? E quantos você perdeu? Quantas noites mal dormidas você teve? Quantas canções você dedicou? Quantas você recebeu? Quantas festas você foi? Quantas festas realmente valeram à pena? Quantos amigos você fez? Quantos você perdeu? E Quantas pessoas você fez feliz? Por quanto tempo?
Muitas são as perguntas e poucas as repostas. Até porque, preferimos acreditar que nosso crédito é eternamente positivo. Preferimos pensar que fizemos mais coisas boas do que coisas que consideramos ruins.
Acho que temos medo de tentar ser feliz! Preferimos pisar num terreno conhecido, que nos traga um bom sentimento imediato, do que enfrentarmos um terreno acidentado, que nos traga um sentimento duradouro.
Depois de tanta ladainha e de palavras que podem ser desnecessárias para você, chego a uma conclusão um tanto óbvia, que não precisa de soluções matemáticas nem de conselhos filosóficos: Somos covardes! Covardes com nós mesmos! Covardes com os outros!
Pare para pensar... talvez essa covardia seja o motivo de estarmos presos nessa armadilha sufocante, seja o grilhão que nos mantém cativos a esta prisão.
Então talvez seja melhor admitir... você também é um detento, como eu, como qualquer ser humano insatisfeito com a realidade que vive, com o caminho que trilha, com os ponteiros do relógio que marcam o transcorrer desse caminho mortificante.
Bem- vindo ao mundo real!

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